quarta-feira, 7 de julho de 2010

"Pesadelos e Miragens"

"(...) porém, está fora de dúvida que na Índia a realidade nunca está completamente ao nivel dos sentidos do homem, ou seja, nunca permite uma identificação indolor e fácil do homem com o ambiente natural e social. Pelo contrário, essa realidade é sempre anormal, entendendo-se por anormalidade tudo aquilo que não se apresenta à escala humana; e é-o de duas maneiras fundamentais e opostas: o pesadelo, ou seja, uma irrealidade angustiante, e a miragem, ou seja, uma irrealidade cativante.


A irrealidade do pesadelo é aquela que atinge de imediato o visitante. O clima tropical parece ser o motivo principal desta sensação oprimente. Um calor insuportavel, uma humidade louca, chuvas torrenciais e, quando o tempo está bom e fresco, como acontece no Inverno, qualquer coisa de excessivamente brilhante na luz e de dolorosamente faustoso nas cores fazem com que o homem na Índia viva sempre um pouco acima dos seus sentidos, numa situação angustiante de permanente incedulidade existencial. Ao clima se deve, portanto, que muitos aspectos da Índia tenham a intensidade insuportável das coisas que se vêem e vivem nos pesadelos. Fazendo outra comparação, parece que temos nos olhos umas lentes demasiado fortes que ansiamos por substituir. Da mesma maneira que anseia por acordar quem está a dormir e a ter um pesadelo."

(Alberto Moravia, Uma ideia da Índia, Pesadelos e miragens)

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