terça-feira, 13 de julho de 2010

Viajar na Índia

"Uma viagem pela Índia significa um passeio através da uniformidade de um pais imenso e, ao mesmo tempo, extraordinariamente unitário. À medida que os quilómetros vão passando nos marcos à beira da estrada e os lugares tão sonhados vão desfilando, um sentimento de desilusão, a principio incerto e depois cada vez mais convicto, insinua-se no espirito do viajante que vai em busca do pitoresco. Nomes orientais que, lidos no mapa, o tinham levado a esperar inimagináveis magias exoticas, servem ao invés para indicar cidades em que, à excepção de alguns monumentos muito notórios, mas não excepcionais, tudo é muito semelhante, de tal modo que ter visto uma é o mesmo que tê-las visto todas. Com efeito, a cidade indiana não é mais do que um enorme bazar(...) pitoresca à primeira vista e, depois de um olhar mais atento, assaz monótona, com aquela monotonia confusa e um pouco irritante que é própria da pobreza e da ausência de qualquer plano urbanístico. E o campo não é mais variado: grandes planícies de uma serenidade melancólica, imersas numa luz replandescente e fúnebre, descoradas, arenosas, intermináveis.
E por fim a verdade desponta: a Índia não é um país bonito como, por exemplo, a Itália, nem pitoresco como por exemplo o Japão. A Índia é um continente onde são dignos de interesse, sobretudo, os aspectos humanos. Desse ponto de vista, a Índia é com certeza a nação mais original de toda a Ásia, pelo menos para nós europeus, que logo tentamos descobrir semelhanças e afinidades que procuramos em vão na China ou no Japão. A aventura política, social, religiosa e artistica daquele ramo de estirpe nórdica que, em vez de se dirigir para a Europa desceu ao sub-continente, é plena de fascínio e de ensinamentos para os europeus. Diríamos mesmo que não se pode compreender por completo a civilização europeia se não se conhecer a Índia. Mas a Índia vista com olhos de turista ignorante até pode ser uma desilusão."

(Alberto Moravia, Uma ideia da Índia, Viajar na Índia)

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